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EDGARD MELLO FILHO

Edgard Mello Filho é jornalista e ex-piloto de categorias nacionais, tendo se destacado na antiga Stock Car Brasil, sendo tricampeão brasileiro. Edgard conviveu de perto com Ayrton Senna, bem como a família do ídolo. O jornalista cedeu uma entrevista para a edição especial da revista Alternativa do Japão, em maio de 2012, onde destacou algumas qualidades que só o Ayrton possuía.

Qual dos feitos do Ayrton mais lhe impressionou?
Na realidade todos os momentos da carreira dele, especificamente na Fórmula 1 me impressionaram. A começar com as "mágicas" na Toleman, o trabalho com Ducarouge (chefe de equipe) na Lotus, guiando um carro muito ruim (o próprio Ducarouge reconheceu que o carro não era a altura do Ayrton). Na McLaren então, não preciso nem contar, todo mundo sabe.

Em uma oportunidade você comentou que algumas decisões que o Ayrton tomava pareciam "espíritas". Qual momento como este que mais lhe chamou a atenção?
Realmente pareciam "espíritas". Muitas vezes eu ficava imaginando ou discutindo com colegas jornalistas que cobriam a Fórmula 1, "onde ele foi buscar essa"? Era incrível o que ele se moldava a algumas modificações, se ajustava à elas. Quando ao final de um treino livre, os mecânicos se olhavam e o Joe Ramirez (chefe dos mecânicos quando Ayrton competiu pela McLaren) dizia: "Nada a declarar". Alguma o Ayrton tinha puxado do "fundo do baú".

Uma vez você comentou que o Ayrton "não fez a sua cabeça", quem a fez foram seus ídolos da época de adolescente. Você afirmou que o Ayrton "encheu os seus olhos". Como ele fez isso?
O "Beco" (apelido de infância do piloto) sintetizou todos os meus heróis. Claro, dadas às devidas diferenças de tempo, estilo e tudo que envolve cada momento e situação. Pilotos como Nuvolari, Fangio, Clark, Stewart e Villeneuve (pai), foram referência para mim, sem dúvida. Li, ouvi e especulei tudo a respeito deles, mas, com Emerson, Piquet e Senna, foi diferente, eu estava lá. Acompanhando a história de cada um ao vivo, vivendo cada momento, fosse vitória, dúvida ou derrota. Foi mágico.

Por que o Ayrton incomodava tanto aos dirigentes da Fórmula 1, a ponto do Balestre (presidente da federação) lhe tirar o campeonato de 1989.
O Ayrton sempre foi uma enorme pedra no sapato deles. Não engolia qualquer coisa e chegava junto em tudo que o incomodasse. O caso deste elemento, o presidente da FIA e FISA (eu me recuso a pronunciar o nome) foi à parte. Eu não tenho competência ou conhecimento para discutir problemas "genéticos", que a história dele fale por mim. Quanto às discussões com o belga Roland Bruynseraede, que era o "Whiting" (diretor de provas) da época, sempre foram muito calorosas, algumas até engraçadas.

Qual exemplo que o Ayrton deixou e que possa servir de inspiração na vida das pessoas?
Garra, dedicação, concentração, foco, obstinação, confianças, lutar pelos ideais e correr atrás sempre. Não desistir nunca. Segundo o próprio Ayrton: - Com a força da sua mente, seu instinto e, também com a sua experiência, você pode voar alto.

Foto cedida - Edgard Mello Filho